Imagens-sacras
Pe. Ernesto

Imagem Sacras

“Jesus fez do visível um trampolim para ilustrar o invisível” (S. Ambrósio). No debate teológico, antigo e novo, sobre o significado das imagens sagradas – esculturas, pinturas, vitrais – o texto bíblico fundamental é o que se lê no livro do Deuteronômio:

“Uma vez que em nenhuma forma vistes o Senhor Deus no dia em que Ele vos falou no Horeb, no meio do fogo, não vos pervertais, fazendo para vós imagens esculpidas em forma de ídolo” (4,15-16).

O livro do Êxodo retoma este mandamento, aparentemente absoluto: “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagens esculpidas, que se assemelhem ao que existem lá em cima, nos céus, ou embaixo, na terra, ou nas águas, que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás” (20,3-5).

A preocupação de Moisés é mais do que evidente: evitar a todo custo que o povo eleito, na interminável caminhada pelo deserto, entrando em contato com vários povos pagãos, se deixe corromper, abrasando e adorando seus falsos deuses, representado por esculturas (Sab 13,10-19;14,12-13;15,1-19; Sal 115).

O mandamento, entretanto, é relativizado pelo próprio Deus em outras passagens da Escritura. Já no Antigo Testamento, o mesmo Deus manda fabricar a “Arca da Aliança” (Êx 25,10-16) e esculpir dois querubins, que velassem com suas grandes asas a Arca (Êx 25,18), que cotinha “o documento da Aliança” (Êx 25,16). Salomão, na construção do Templo de Jerusalém, “no Santíssimo, mandou instalar dois querubins de madeira de oliveira de cinco metros de altura.

Uma asa de um querubim media dois metros e meio, e a outra asa também…. O segundo querubim media igualmente cinco metros de altura” (1Reis 6,23-26). E, no zelo pela Casa do Senhor, “mandou esculpir querubins, leões e palmas” (1Reis 7,36). O livro dos Números confirma que a Arca da Aliança era guardada por “dois querubins” (Núm 7,89).

Ezequiel, na visão que teve, viu “na porta do Templo, em volta de todas as paredes internas e externas, pintados querubins e palmeiras e cada querubim apresentava duas faces” (41,18). O segundo livro de Samuel apresenta Deus “sentado sobre os querubins” (6,2), assim, o segundo livros dos Reis 19,15, referindo a oração de Ezequias.

Moisés, enfim, por ordem divina mandou fazer uma serpente de bronze para ser içada em alto mastro; quem olhava para ela com fé era curado das picadas das serpentes venenosas (Núm 21,8). Cristo se comparará a ela, quando ele for elevado na Cruz (Jo 3,14), para salvar os seus da serpente infernal (Sab 16,5-14).

No Novo Testamento, Jesus, feito “imagem visível do Deus invisível” (Col 1,15), inaugura uma nova economia, fundado sobre a imagem. Retira não só a proibição vetero-testamentária das imagens, pois, “O Verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós.

Nós vimos sua gloria” (Jo 1,14), mais ensina “a não ser por imagens” (Mc 4,34-35; Mt 13,34-35). “A imagem humana do Verbo Encarnado é a nossa felicidade, já aqui na terra; sua imagem é a suma de todas as alegrias, que o coração humano possa experimentar” (Santo Agostinho). Cristo, Deus-humanado, renova o próprio conceito de imagem e torna possível a representação por imagem dele próprio, de sua Mãe Santíssima, dos anjos e dos santos.

Desde os seus primórdios, a Comunidade cristã, ensinada pelos apóstolos (Gál 3,1), começa a usar imagens, pintadas ou esculpidas, como elemento importante para a catequese e a instrução religiosa, sobretudo dos simples. Nas catacumbas de Roma, desde o primeiro século, Cristo é representado como Bom Pastor, trazendo nos ombros a ovelha resgatada.

O Oriente cristão enriqueceu a catequese com admiráveis ícones russos, ucranianos, romenos e búlgaros, entre as quais a incomparável Trindade de André Rublov. O Ocidente, por sua vez, viu surgir das mãos dos mais prestigiosos artistas obras-primas da arte mundial: esculturas, pinturas, mosaicos, tapeçarias e vitrais. A Igreja de Cristo nunca recuou neste ponto da sua fé, menos ainda hoje, neste nosso mundo das comunicações sociais e do apreço pelas artes.

Pe. Ernesto
Pároco da paróquia São José – SAD.

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